Não esqueço a alegria estampada em seu rosto quando veio correndo me chamar para ver o bichinho que brincava todo encolhido em sua meia, deixando-a melecada com um grande rastro. Até que não era feia, não: tinha um belo par de antenas e umas manchas nas costas que a deixavam única.
Ele me perguntou todo ansioso:
- Papai, papai! Posso ficar com ela, posso?
Eu não teria como recusar aquela esquisitice de criança.
- Claro que sim, filho. Só não jogue sal em suas costas – alertei (no fundo minha vontade de fazer aquilo era enorme, eu adorava jogar sal em lesmas quando era moleque).
Com o passar dos dias era incrível ver o cuidado de Agezinho com o novo hóspede, que dormia em uma caixinha de sapato. Colocamos uma banana frita pra simular uma lesma-mulher. A minha idéia deu tão certo que a lesma não saía de cima daquela banana nanica que derretia com o passar dos dias. Até achávamos que a lesma estava morta.
O nome da lesma era Gosminha, nome que Agezinho colocou devido ao rastro gosmento que ela deixava pela casa. Tudo era uma alegria só para o menino desde que aquela lesma entrou em sua vida. E para Gosminha também, que com certeza nunca recebeu tanto carinho. O bicho adorava grudar em nossas roupas e deixar o seu carinho nelas. Ela era feliz com certeza.
Até que um dia tudo se desmanchou e a tristeza acabou tomando conta de todos nós. Alguém pisou na coitada, transformando aquele animal em um borrão gosmento e disforme no chão.
Os dias foram difíceis para AG filho, que superou com dificuldade o trauma de ver seu animal esmagado e sem vida na sala. Foi difícil até mesmo para mim, que até hoje não consigo comer uma banana frita nem mesmo calçar os sapatos novos que comprei naquele triste dia.
Hoje Agezinho já tem um novo amigo que vive em um vidrinho de lantejoulas: um carrapato bola chamado Tosquinho.