domingo, janeiro 21, 2007

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Cuecas

- Merdaaaaaaaa!! Não tenho mais nenhuma cueca pra vestir! Infelizmente vou ter que usar a mesma, viro do avesso e tá tudo bem.

Porra, meu! Não tenho máquina de lavar e nem um tanquinho. Fica toda roupa suja amontoada no banheiro. Meias, então, nem se fala: pego as meias que estão mais limpas, mesmo sendo de pares diferentes. Não é que minha esposa não lave, mas ali não tem como, temos que ir muito longe para lavar as roupas e fazemos isso uma vez por semana. Isso que é punk. Não que eu seja algum hippie sujo, mas é a situação do momento. Sujas como meu coração, como a minha alma.

Durmo tarde e acordo cedo pra trabalhar, ainda morrendo de sono. Com a mesma roupa que deito eu acordo, dou aquela esfregada rápida nos dentes e uma lavada nas remelas dos olhos. Desesperadamente procuro algumas meias limpas, pego meu celular, dou um beijo na minha esposa que dorme feito pedra e ronca que é uma beleza. Não há quem a tire da cama.

E são assim todos os dias. Nem meu profumo estrangeiro uso mais, acabaram-se todos. Mas ainda tenho um pouquinho da amostra grátis que um amigo francês me deu. Já se foram meus tempos de abundância, agora ralo mais que nunca, tudo muito difícil. Aprendi que é impossível viver sem as pessoas, sem os amigos, família ou algum outro contato. Acho que é por isso que os indigentes são loucos e falam sozinhos. É a falta de um contato humano, amigo, de um abraço. Faz tempo que não sinto um abraço de verdade. Queria muito chorar no colo da minha mãe e dizer-lhe o quanto tudo é tão difícil.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Baratas

É a primeira vez que ouço falar em baratas francesinhas! Será que foram meus hóspedes que trouxeram? Depois de ouvir gritos de desespero pela sala, à 1:30 da manhã, saí desesperado do banheiro, com o papel higiênico na mão, já meio usado. Pensei comigo:

- Meu Deus, que será que aconteceu desta vez? A Babe gera tumultos pelas coisas mais bestas.

Chegando até a sala em um pulo, vi que seu olhar era de desespero apontando para o canto do nosso sofá-cama já aberto para dormirmos. Olhei e vi uma baratinha saindo de uma fresta. Entendi o porquê de tamanho alvoroço. Saiu uma, depois duas e logo atrás os filhotes. Acho que a vinda deste sofá trouxe várias comunidades de insetos. Minha primeira reação foi preparar um removedor e esborrifar nos cantos do sofá. Fiquei tonto mas acho que valeu a pena, pois aos poucos via as malditas baratinhas, que não tinham nada de francesas, rastejarem para fora para seu último suspiro dado pelas minhas chineladas.

Enfim tudo voltou ao normal, a não ser pelo cheiro forte de removedor pela casa. Debatemos sobre o acontecido e fomos tentar dormir.

A voz da Babe rompe o silêncio:

- Você viu o tamanho daquela primeira baratinha?

Passei as horas seguintes olhando fixamente a fresta do sofá na minha cara, para ver se não saia nenhuma baratinha.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Pulgas

Seu corpo é tão maravilhoso que até as pulgas se deliciam com o sangue doce de suas nádegas e coxas. Seriam pulgas taradas do nosso tempo, obcecadas por fêmeas da espécie humana? Acho que é loucura minha, estou tendo pensamentos doentios. É triste ver seu belo corpo coberto de picadas.

Dormimos em um sofá-cama doado pela Cruz Vermelha, um luxo de sofá, daqueles antigos e bem pesados, com listras de diversas cores, bonito mesmo, apenas um furo de cigarro no braço. Talvez as pulgas tenham vindo junto com o sofá, só pode ser isso, antes não havia bichos em casa!

Mas, mesmo assim, sejam bem-vindas ao mocó do A.G., onde sempre serão bem-vindos os rejeitados. Talvez possam me fazer companhia quando meu amor se for. As pulgas e minhas latinhas de cervejas vazias... Preciso arrumar um jeito para que todos possam dormir confortavelmente sem incomodar um ao outro, pois nossa moradia é pequenina e precisamos nos acomodar bem. Um pequeno banheiro, uma meia-cozinha dividem o espaço da sala arejada e branquinha. Você consegue ver uma pulga de longe, e os mosquitos que invadem a janela tiram nossa atenção do filme, sobrevoando nossas cabeças.

Acho que estamos tentando ser felizes ali. Eu, meu amor, as pulgas, os mosquitos e acho que também todos os que moram ali naqueles minúsculos mocós. Tão pequenos mas onde há espaço para tudo, para todas as nossas dificuldades, nossos problemas, nossas neuras , incertezas e nossas brigas pelo incomum.

Mesmo assim sobrevive minha princesa, ultimamente tocada pelas pulgas e não por mim. Mas ainda posso vê-la dormindo em meio a madrugada. Agora o silêncio que timidamente chega me faz companhia em admirar meu bem precioso que dorme ali, no nosso belo sofá, maravilhosa e divina, exposta às pulgas indecentes.

Ano Novo

Aquele mato todo era o que precisava pra relaxar e dar calma às minhas neuroses, a minha chatice. Aquela chuvinha perfeita caía sobre nós dois, eu e minha Darling. Já era quase meia-noite e aguardávamos a virada daquele velho ano. Um ano difícil e cheio de dificuldades, mas também cheio de alegrias. Meu corpo derretia como se fosse fundir com aquela terra preta molhada, aquela chuva saciava a minha sede de água, e sentia meus olhos mais vivos do que nunca, via tudo com clareza e até o sobrenatural. E ao mesmo tempo em que sentia aquilo tudo falava sozinho:

- Que delicia! Era muito boa aquela sensação.

Toda minha existência passou pela minha cabeça em segundos. Havia errado mais do que acertado. Mais um ano estava indo embora, Deus e o diabo estavam comigo naquele momento, a certeza e a dúvida, a alegria e a tristeza.

Fui de repente surpreendido por uma maravilhosa explosão de fogos em pleno mato, uma gritaria danada surgiu do nada e juntos demos aquela salva de palmas para o novo ano que se rompia. Pensei comigo mesmo:

- Sobrevivi mais um ano! E completamente alterado.

Estava chovendo gostoso, mas uma surpresa da natureza nos surpreendeu: o céu se abriu um pouquinho para a lua aparecer, uma lua bonita e brilhante, como que querendo nos dar um feliz ano novo e mostrar um pouquinho da beleza desta vida.

Minha noite adentrando a madrugada foi uma loucura ácida misturada à acidez da minha alma, do meu estado de espírito. Esta mistura me custou dias de depressão e reflexão para este ano. A todos os meus amigos desejo me reconciliar e desejar um grande ano, uma grande vida.

Estes são os votos do AG e Família.