sábado, março 05, 2005

18 anos

Aniversário sempre foi uma coisa que sempre esperei o ano todo pra comemorar,é lógico,o meu.E como pra mim é um dia muitíssimo importante,esquece-lo seria uma traição,um descaso e um insulto a minha pessoa,acho que é uma grande vitória,chegar mais um ano,ainda mais vivo e ter conseguido superar momentos difíceis e a maioria sempre ruins.Tive muitos aniversários inesquecíveis,por terem algo sempre decepcionantes.Um deles foi quando completei meus dezoito anos,acordei muito feliz e talvez esperando algum presente,poderia ser o mais bobo,ou até mesmo um parabéns....coisa que aquele dia dificilmente ouvi.Merda,só minha mãe lembrou.Nesse dia de tão chateado que estava resolvi comprar uma garrafa de 51 e levar pra escola,nesse tempo eu era punk,estava numa fase rebelde e inconformado com a vida,lembro que tomei a 51 a aula inteira e cai num porre desgraçado,xinguei todo mundo que pude,soltei toda minha revolta e desprezo e pelos meus 18 anos esquecidos por todos e por tudo.Depois de ter chamado um soldado da Aeronáutica de cobrador de ônibus e ter sido meio racista com um bando de malandros que passavam por ali na frente do colégio.Só não tomei uma surra porque tinha dois amigos meus que livraram minha barra,André e Sergio eram meus amigos inseparáveis do colégio,beberam comigo aquele dia e só eu fiquei chapado,enfim matei o ultimo gole,e foi esse ultimo que me levou ao chão e rolar até a sarjeta em frente ao colégio”Caetano de Campos”triste dia.Em meio aos olhares curiosos e muitos risos fiquei largado e dizendo bobagens como:”ninguém gosta de mim,ninguém lembrou de meu aniversário”.Meus dois amigos envergonhados e talvez pensando o que fariam para me levar pra casa,conseguiram um táxi,depois de varias tentativas sem sucesso,além de fazer um bafafá no táxi,ainda vomitei em tudo.Agora imagina a minha mãe quando me viu naquele estado,minha mãe,coitada da minha mãe,apenas me lembro ela dizendo
-Não acredito Edson,bêbado!!!!

Respondi:Esqueceram meu aniversário mãe,todo mundo!!
O mais vergonhoso de tudo é minha mãe ter pegado no meu pinto para poder fazer xixi,pois não agüentava nem ficar de pé,o gosto da pinga queimava meu estomago,o gosto de vomito e o cheiro insuportável da bebida maldita exalavam fortemente pelo meu corpo.
Assssscho que não vou pro céu mãe,dizia enquanto minha mãe mirava meu pinto no vazo.
Depois de uma manhã de ressaca e uma dor de cabeça que latejava insistentemente,um mal estar horrível.Depois de tudo isso meu agradecimento aos meus amigos e claro,seus relatos sobre meus feitos.Mas meu agradecimento era pela gentileza e a bondade de pagarem um táxi até minha casa.Me enganei,com aquelas caras de bobos e miseráveis safados,o dinheiro do táxi era meu e estava em meus bolsos.Como o velho ditado diz”c.. de bêbado não tem dono”

Meu pote de balas

Dormir nas ruas do centro era uma das coisas que constantemente fazia nos finais de semana,depois de uma semana difícil e batalhadora,trabalhando como oficce- boy .Com certeza merecia um belo final de semana fora de casa e longe da chata da minha irmã e das discussões idiotas entre meu pai e minha mãe,e longe de todos os seres humanos normais,la estava eu no bexiga no sábado a tarde,eu e mais um monte de muleques com suas jaquetas de couro sujas,com arrebites,pintadas com protestos e suas bandas preferidas,eu tinha a minha jaqueta de couro,era bela,de couro mesmo,não aquelas jaquetas horriveis feitas de vinil,curvim ou aquele tecido horrivel que imita couro.Alguns com cabelos espetados. O meu era um belo moicano levantado a base de sabonete de glicerina,era pequeno,mas mostrava tal agressividade e poder diante dos boyzinhos ou dos estranhos heavy metals e suas calças apertadinhas ou mesmo pessoas comuns .Mais um dia de arruaça,um final de semana muito punk e rebeldia pura.Não me esqueço dessa noite,estávamos na praça 14 biz ,ali mesmo na Bela Vista,ali havia barracas de doces,mas como já era muito tarde estavam fechadas com cadeados e correntes,lembro que estouramos o cadeado e as correntes de uma barraquinha e começamos a saquear tudo que estava dentro,cada punk entrava e levava uma coisa da barraca,fichas de orelhão doces etc.etc.Um punk alto,orelhudo e com cara de louco,uma mistura de frankstein com uma outra coisa,tentava insistentemente arrancar um daqueles baleiros giratórios,fiquei parado olhando a sua tentativa desesperada,sua língua de fora e que babava com o tamanho esforço que fazia,mas foi em vão,o baleiro estava fixado e frustrado saiu correndo sem nada.Era a minha vez,entrei,olhei não tinha quase mais nada.Mas ao olhar atrás da porta,havia um pote de vidro enorme,cheio de balas de todos os tipos,era mais ou menos do tamanho de um galão de agua de 5 litros,abracei aquele pote e me pus a correr desesperadamente pela 9 de julho.Era estranho caminhar pelas ruas do centro na madrugada com um pote de balas nas mãos.Sempre que avistava uma viatura escondia o pote,depois voltava para buscar e assim foi a minha noite,andando pela Paulista, eu e a turma toda,com meu pote de balas,até distribui algumas para alguns muleques de rua,e assim íamos,com nossas jaquetas e nossa rebeldia de garotos de 14 a 17 anos.
Na manhã já na minha rua,fiz uma fila com a mulecada toda para um distribuição de balas e um pote novinho em folha para minha mãe....até que ela ficou
muito tempo com ele.Só jogou fora depois que lhe disse que fora roubado de um pobre velhinho aleijado.

Cidade

As ruas da cidade nos ensina,nos amedronta,também nos surpreende.Becos sujos e escuros que a noite nos faz evita-las,mas que de dia nos servem como atalhos para nossos destinos.Como dia e noite, parecem fazer de um lugar, duas cidades totalmente diferentes,o dia que leva as pessoas ao seu trabalho,gente de todas as formas e diferentes culturas,vão e vem,carros e mais carros,buzinas e gritos.
A noite é outro mundo,dependendo do lugar é outro planeta,dependendo como diz um amigo meu,um circo de horrores...hehehhe essa é boa.As ruas do centro se tornam escuras
e freqüentadas por pessoas um pouco agitadas e nada amigáveis,seus bares freqüentados por mulheres e homens a procura de um bom divertimento ou mesmo curtir uma noite solitária, acompanhada de uma bela cerveja ou mesmo de um bom destilado.Já fiz muito isso nas noites do centro de São Paulo.Ruas sujas,imundas,seus lixos revirados e despejados pelas calçadas.Já reparou nos lixos do centro?o que contém dentro,tente olhar uma vez,com certeza verá varias camisinhas,revistas pornô e outras coisas exóticas e interessantes,lixos disputados por mendigos,ratos e cães.
O centro a noite é inspiração para os poetas,é o caminho para os subversivos,o aprendizado para os excluídos e a morada das tribos.Copos de bebida,musica,e uma boa conversa é uma boa mistura para se dopar dessa cidade chamada São Paulo,onde ela acolhe como se fosse uma mãe,a boa mãe que acolhe a todos,que tem seus defeitos e virtudes,que lhe da bons e maus conselhos,que te mata e te tira das enrascadas e que te faz dormir em seu colo,em um desses bancos espalhados pela cidade.Tudo isso depois de um belo porre.Depois de uma ressaca e varias vomitadas,ela te devolve pela manhã para mais um dia de trabalho ou desemprego,para os braços de sua(seu)amado ou para as lagrimas de um amor inexistente ou traído.Gritos,gente,carros,tudo novamente.De dia meu café de noite minha cerveja.

Meus passos,Minhas sacolas.

Em passos curtos e lentos ela caminha pelo seu rotineiro itinerario,uma senhora de uma idade já avançada,um rosto cansado e marcado pelos dias difíceis ,suas roupas sujas,fétidas,o pó que se acumula dia a dia e gastas pelo tempo.Como pode um corpo tão velho e frágil,encurvado,talvez pelo fardo de uma vida difícil.O mais surpreendente de tudo isso são as varias sacolas de plástico que carrega,estas cheias das mesmas sacolas plásticas e ainda uma mala muito velha.O que sera que contém naquela mala inseparável?será suas roupas podres ou será os restos mortais de um passado obscuro e imperdoável?!!!penitência,será?.Em um filme de Robert De Niro”a Missão””ele paga uma penitência em arrependimento por ter matado seu irmão,transpoe montanhas difíceis carregando em seu corpo suas pesadas armaduras.
Sera que existe algo humano em tudo isso,algum sentimento,exitirá ainda alguma esperança,algum sonho.Fico imaginando.
Creio que todas as pessoas,sejam qual for a sua situação,ainda existe algo de bom,nem que seja algo pequeno,escondido atrás daquele coração sujo e encardido,mesmo coberto pelo pó da cidade,pela fuligem e pela dor.
Digo isso porque,uma vez estava eu esperando um ônibus,não sei ao certo para onde ia,mas fiquei observando esta mesma alma,ao lado de uma lanchonete,a frente o ponto de ônibus e varias pessoas ,uma manhã muito fria.La estava ela,com toda aquelas sacolas e seu café da manhã”um velho pão,duro como pedra,podia-se ver que aquele pão atirado em sua cabeça podia mata-lo..hehehe,o pão que o diabo amassou,esse era seu café da manhã.O interessante era os pombos que ali a cercavam.Quando de repente,ela começou a repartir o seu pão com aqueles pombos famintos,ali estava um pouco de sua própria humanidade,o pouco que sabemos,o que aparecia ,mesmo sob toda aquela sujeira.Como estamos calejados mediante a tanta miséria,pois acaba se tornando algo comum e desprezível.
Onde esta nossos sentimentos e nossa humanidade,deviam estar transbosdando e refletindo,pois estamos tão limpinhos e cheirosos.