sábado, março 05, 2005

Meu pote de balas

Dormir nas ruas do centro era uma das coisas que constantemente fazia nos finais de semana,depois de uma semana difícil e batalhadora,trabalhando como oficce- boy .Com certeza merecia um belo final de semana fora de casa e longe da chata da minha irmã e das discussões idiotas entre meu pai e minha mãe,e longe de todos os seres humanos normais,la estava eu no bexiga no sábado a tarde,eu e mais um monte de muleques com suas jaquetas de couro sujas,com arrebites,pintadas com protestos e suas bandas preferidas,eu tinha a minha jaqueta de couro,era bela,de couro mesmo,não aquelas jaquetas horriveis feitas de vinil,curvim ou aquele tecido horrivel que imita couro.Alguns com cabelos espetados. O meu era um belo moicano levantado a base de sabonete de glicerina,era pequeno,mas mostrava tal agressividade e poder diante dos boyzinhos ou dos estranhos heavy metals e suas calças apertadinhas ou mesmo pessoas comuns .Mais um dia de arruaça,um final de semana muito punk e rebeldia pura.Não me esqueço dessa noite,estávamos na praça 14 biz ,ali mesmo na Bela Vista,ali havia barracas de doces,mas como já era muito tarde estavam fechadas com cadeados e correntes,lembro que estouramos o cadeado e as correntes de uma barraquinha e começamos a saquear tudo que estava dentro,cada punk entrava e levava uma coisa da barraca,fichas de orelhão doces etc.etc.Um punk alto,orelhudo e com cara de louco,uma mistura de frankstein com uma outra coisa,tentava insistentemente arrancar um daqueles baleiros giratórios,fiquei parado olhando a sua tentativa desesperada,sua língua de fora e que babava com o tamanho esforço que fazia,mas foi em vão,o baleiro estava fixado e frustrado saiu correndo sem nada.Era a minha vez,entrei,olhei não tinha quase mais nada.Mas ao olhar atrás da porta,havia um pote de vidro enorme,cheio de balas de todos os tipos,era mais ou menos do tamanho de um galão de agua de 5 litros,abracei aquele pote e me pus a correr desesperadamente pela 9 de julho.Era estranho caminhar pelas ruas do centro na madrugada com um pote de balas nas mãos.Sempre que avistava uma viatura escondia o pote,depois voltava para buscar e assim foi a minha noite,andando pela Paulista, eu e a turma toda,com meu pote de balas,até distribui algumas para alguns muleques de rua,e assim íamos,com nossas jaquetas e nossa rebeldia de garotos de 14 a 17 anos.
Na manhã já na minha rua,fiz uma fila com a mulecada toda para um distribuição de balas e um pote novinho em folha para minha mãe....até que ela ficou
muito tempo com ele.Só jogou fora depois que lhe disse que fora roubado de um pobre velhinho aleijado.

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