sexta-feira, julho 14, 2006

CALÇA CURTA , VELHOS E NAFTALINA.

Uma mão entre suas coxas e os ouvidos atentos ao barulho do portão que se abria.

-Puta merda, seu pai chegou! E agora, caramba?

Era sete horas da manhã, e o pai daquela fulana era um bicheiro, velho chato e ranzinza, o véio era perigoso. Saía sempre às seis da manhã e só voltava à tarde para comer alguma coisa. Infelizmente hoje ele voltou mais cedo que se imaginava.

- Véio do cacete! E agora, o que a gente vai fazer?

- Sei lá, entra aí no guarda-roupa e fica quietinho.

Nossa! Aquilo foi broxante, estava com as calças pelos joelhos e a cueca também. Foi tão desesperador que, intuitivamente, puxei as calças rapidamente - obviamente seria a cueca primeiro - a calça enroscou na cueca e no fim fui parar no guarda-roupa com as calças ainda no meio das pernas.

Nossa, que roupas bregas desse velho! - pensei comigo. Me deu uma vontade de rir daquela breguice, mas isso não era hora, minha situação era péssima.

A casa era um quarto, cozinha e banheiro, não tinha pra onde correr, seria morto ali mesmo com as calças na mão e o pinto murcho, indefeso. Aquilo era vergonhoso demais pra mim. O pior de tudo é que sou alérgico a mofo, poeira. O interior do guarda roupa parecia um baú de roupas velhas. Que cheiro de naftalina horrível.

Estava totalmente encrencado, encolhido e assustado, e uma vontade imensa de espirrar. Teria que agüentar aquilo, era minha prova de fogo. Imagine minha situação: meio que sem calças, com vontade de espirrar e não sabia quando sairia dali.

Pensava comigo mesmo:

-Nunca mais volto aqui, nunca mais invento de trepar de manhãzinha. Fiz mil promessas se saísse ileso dali.

Prometi até ir à igreja todos os domingos com minha mãe, quando meus pensamentos foram interrompidos por uma voz irritante e áspera:

- Decidi ir trabalhar mais tarde, tô com preguiça hoje.

-Meu Deus, o que vou fazer agora? - falei baixinho.

Ouvi que a garota fazia de tudo para dispensar o pai. Ela não podia me deixar ali sozinho, o velho poderia querer alguma roupa que estava ali, aí sim estaria perdido.

Fiquei quase duas horas ali, passando mal, “tudo” e “todo” encolhido. Enfim o velho decidiu ir embora, tamanha foi a insistência da filha. Saí do armário, dei vários espirros e traumatizado terminei em segundos o que havia começado e disse nunca mais voltar ali e passar aquele constrangimento.

Falei a ela:

- Tão cedo não vou aparecer aqui, você disse que era super seguro!

- Me desculpe, não imaginei que pudesse voltar tão cedo - ela respondeu.

Senti seu pesar e fui embora morrendo de vergonha e raiva.

Um dia depois estava escondido debaixo da cama, me segurando para não espirrar. Dessa vez deu tempo de vestir as calças corretamente. Fiquei mais tranqüilo.

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