quinta-feira, julho 06, 2006

UÉ! CADÊ A LIBERDADE?

AG teve um dia muito cansativo, trabalhando desde as seis da manhã. O balanço do final de mês sugou toda a energia que restara, acabou com toda sua paciência, precisava relaxar. Dezoito e trinta e ainda continuava em seu serviço, em sua mesa, pensando o que iria fazer da vida.

Uma hora depois estava em uma mesa diferente, destas com muita cerveja e gente conversando. Ali sim estava melhor, entre conversas, caipirinha e a bendita cachaça!

O mijadouro me esperava. Algo aconteceu, pois voltei vendo tudo triplicado, já não conseguia coordenar meus passos e movimentos. As únicas imagens que me recordo deste instantes pós-bar era a lembrança de ter estado com Chico Buarque, ter passado pelo México e tirado fotos com meu amigo Pessoa.

¿AG no México?

E então, pegar o ônibus Largo da Pólvora e descer no ponto final, algo infantil e totalmente fácil pra quem esta sóbrio. Eram 22:30 quando me despedi e adentrei no bendito ônibus. Acordei à 1:20 da manhã no mesmo ônibus, só que em um local totalmente diferente e assustador. Pensei comigo:

- Meu Deus, onde é que estou? Nunca vi este lugar na minha vida!

Para minha surpresa fui parar em uma favela no Jardim João XXIII, só com meu bilhete único e nenhuma esperança de que ainda voltaria para casa. O único jeito foi ficar ali mesmo no ponto. Uma dor de cabeça horrível me atacou e me desmachei em vômitos para todos os lados, o frio e o medo tomaram conta de mim e por poucos minutos não entrei em desespero. O jeito era deitar ali mesmo e me encolher todo - o frio daquele chão passava pelos meus ossos fazendo doer meus dedos das mãos. As pessoas passavam por mim e faziam comentários como se eu fosse um bêbado ou um mendigo. Não estava longe de parecer com um, pois os cachorros não passavam por mim sem dar uma latida.

Acho que dormi por algumas horas pois acordei com alguns muleques estranhos comentando sobre mim. Mas assustado mesmo fiquei quando ouvi a intenção da rapaziada: queriam furtar-me, tirar o que eu não tinha. Desceram a rua e pararam para fazer uma votação, se me roubavam ou não. Decidi acordar e ficar sentado, coloquei a mão dentro da jaqueta como se estivesse armado e fiquei esperando. Lá vinham eles, trocamos olhares inimigos e passaram direto novamente. Pararam mais acima e continuaram indecisos.

Para minha salvação um casal apareceu em meio ao nada e disfarcei pedindo informações e caminhei com eles até a rua de baixo onde nos separamos. Corri o máximo que pude até um posto de gasolina. Fiquei por lá escondido até um ônibus passar. Às quatro e trinta da manhã consegui pegar um ônibus.

Agora meu drama era outro, a vontade de vomitar era desesperadora, o balançar do ônibus fazia com o que tinha sobrado em meu estomago viesse à tona. As pessoas subiam na lotação fazendo com que meu sufoco aumentasse. Era uma luta com meu organismo deteriorado, o vômito subia e descia. Tudo para não fazer feio, tudo para não emporcalhar alguém. Já bastava minha roupa suja e cheirando a cachaça, a fumaça. Foi quase uma hora de luta comigo mesmo. Ainda tive que pegar o metrô e passar pelo mesmo sufoco. As pessoas notavam o meu sofrimento e angustia. Notava que me olhavam com nojo e dó ao mesmo tempo. Acho que imaginavam:

- Coitado deste moço, pálido e sujo!

Saí do metrô e desci correndo até chegar na casa de meus pais. Era o que mais queria, o que tanto precisava. Enfim entrei e agradeci muito por ver meu filho em paz dormindo com minha mãe. Estava lá me visitando e dormiu poque não agüentou me esperar mais. Eu estava sujo, fedendo, uma dor de cabeça insuportável mas, no final de tudo, estava em casa.

Que dia! Nunca mais vou beber e fumar.

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