quinta-feira, junho 21, 2007


Mamãe já havia falado para tomar cuidado ao andar pelo centro da cidade tarde da noite. Mas para alguém acostumado com a cidade grande, inquilino antigo e tendo ela como uma grande mãe, jamais pensaria em algum acontecimento desastroso e quase fatal.

Talvez depois daquela quarta-feira sinistra e incomum, qualquer outro que diz amar loucamente São Paulo cortaria relações mais íntimas com a metrópole. Mas eu não, eu a amei mais, me apaixonei mais ainda, só que assustadoramente. Senti verdadeiramente o perigo sombrio e frio que vagueia por aquelas esquinas e escadarias escuras que pintam os cinzas da cidade. Como uma floresta mal-assombrada.

Naquela noite apenas olhei para a morte, não cheguei a beijá-la, como dizem. A única cor que conseguia ver era o vermelho vivo que trazia vida àquela paisagem em preto e branco. Pintado por mim, pela minha vida. Meu sangue tirado estupidamente à força movida a ódio, medo ou talvez fome, por um menino que assombra as ruas deste pequeno mundo chamado São Paulo.

As razões que me feriram foi a idiotice e estupidez de acreditar em solidariedade, humanidade e amor. Idiota por não ter fechado os olhos para a covardia e injustiça. Mas, enfim, algo poderoso me livrou mais um dia, e agradeço de todo meu coração a Deus por sua proteção.

Pensei que nunca mais escreveria outra vez, ou visse meu filho, ou mesmo chegasse ao encontro da amada. Pensei que morreria ali, sentado naquele posto policial, sangrando e sendo observado por todos como mais uma vítima da violência urbana. Ou mesmo como um animal ferido. Quase descobri o que era agonizar.

Penso que aquela faca um dia serviu para algo nobre, para alguma coisa boa. E que um dia foi parar nas mãos de um garoto e veio a me ferir. Nada mais será como antes.

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